Nesta terceira e última parte da série "Segredos do Aprendizado - Princípios Cognitivos para aprender mais e melhor" (êita nome bonito retado! :), vamos tratar dos três últimos princípios relatados no livro do Willingham.
5. Cognição é fundamentalmente diferente no início e final de treinamento
E se você aprendesse física como Newton ? Deveríamos aprender ciência como um cientista, elaborando hipóteses, fazendo testes e experiências, revendo sua teoria para ajustar os dados ? Willingham oferece evidência substancial de que a resposta é não.
Há mérito em entender como os cientistas realizam seu trabalho, mas também é claro que a criação do conhecimento e aquisição de conhecimento são muito diferentes. E por serem coisas diferentes, o estudante deve pesá-las uma em relação à outra. Para a maioria das disciplinas, entender os fatos científicos é mais importante que o processo científico em si, pela simples razão de que os fatos científicos informam nossas vidas, mas poucos de nós vão fazer pesquisa científica. O mesmo se aplica à história, filosofia e quase qualquer outra disciplina do conhecimento.
Outra implicação disso é que o método ideal para aprender um assunto e criação de conhecimento dentro de um assunto são coisas bem diferentes. Aprender cálculo e criar métodos de cálculo são coisas distintas, então não se preocupe se você não pode aprender cálculo "à moda do Newton". Você não precisa. Por isso, é melhor focar em entender do que em provar os conceitos que esteja aprendendo.
6. As pessoas são mais parecidas do que diferentes na forma como aprendem
Os estilos de aprendizagem são diversos. Não existe essa coisa de aprendizes visuais, auditivos ou cinestésicos. Isso também é verdade para cada teoria séria de diferentes estilos cognitivos de aprendizagem.
Defender esta conclusão leva a uma reflexão, porque a maioria das pessoas têm a ideia de que é fato que as pessoas aprendem de forma diferente, ainda que as pesquisas mostrem o contrário.
Parte da confusão decorre do fato de que podem existir diferentes habilidades, mas não estilos de aprendizagem. Isso significa que João pode ser realmente bom no processamento de informações visuais e Maria pode ser boa no processamento de informações em áudio. Mostre a João um mapa e ele vai se lembrar onde tudo está melhor do que Maria. Mostre a Maria uma música e ela pode cantarolar inteirinha uma semana depois.
Mas isso não é o que a teoria de estilos de aprendizagem sugere. Ela sugere que, se você ensinou o mesmo assunto tanto para João quanto Maria, e mostrou um slideshow a João e um audiobook a Maria, eles aprendem melhor do que se João tivesse escutado o audiobook e Mary visto o slideshow. As experiências simplesmente não demonstram isso.
Os resultados sugerem que as formas de aprendizado são mais semelhantes do que diferentes. Algumas pessoas podem ser melhores em aprender certos tipos de coisas do que outras, mas dado um determinado assunto, a ciência não tem diferentes formas de aprendizagem que são consistentemente melhores para algumas pessoas, e piores para outras.
Willingham também desmascara a idéia de pensamento linear vs holístico, sendo holístico um conceito próximo ao terceiro princípio cognitivo (aprendemos no contexto do que já sabemos).
7 Inteligência pode ser modificada através de muito trabalho continuado
A inteligência é parcialmente genética e parcialmente ambiental. Diferenças inatas são relevantes, e algumas pessoas nascem com mais talento do que outras.
No entanto, Willingham argumenta que a inteligência é maleável. Psicólogos costumavam acreditar que a inteligência era principalmente genética. Estudos com gêmeos e outros experimentos naturais pareciam confirmar isso. Crianças adotadas se revelavam mais semelhantes aos seus pais biológicos do que aos adotivos em muitas dimensões.
No entanto, agora o consenso relaciona a inteligência muito mais às experiências pessoais que à natureza. Uma das maiores evidências é o Efeito Flynn, que é a observação de que as pessoas, ao longo do século passado, ficaram mais inteligentes (e o efeito é muito grande para ser associado à seleção natural). Genes podem ter um papel importante na inteligência, mas a maior parte desse papel é desempenhado através do ambiente, e não independente dele.
Se você reler o primeiro princípio listado, isso não deveria ser surpreendente. Conhecimento com crescimento exponencial significa que uma pequena vantagem inicial pode aumentar rapidamente. Se os genes lhe deram um avanço de 5% em matemática no jardim de infância, pode não haver muita diferença entre você e uma criança semelhante. No entanto, considere a expansão dessa pequena vantagem inicial ao longo de 30 anos e você pode ter alguém que tenha feito um PhD em física e alguém que parou no ensino médio.
Do ponto de vista da população, a diferença entre estas duas pessoas pode ser "explicada" por diferenças nos genes. No entanto, os genes só criaram uma pequena vantagem inicial. Um trabalho sustentado pode ajudar a definir o seu próprio crescimento exponencial de aprendizagem em uma área também.
Conclusão
Entender os princípios cognitivos que determinam a inteligência e o processo de aprendizagem é importante para definir melhores estratégias para estudar com maior eficiência e melhores resultados.
Como professor, me interesso muito em aprender mais sobre os processos que determinam o aprendizado dos alunos, e de que maneira podemos colocá-los em prática para melhorar os resultados. Já tenho feito algumas experiências bem positivas aplicando principalmente o 3º princípio.
Sem falar que preciso me manter atualizado e, como "viciado em informação", preciso muito de meios pra otimizar meu próprio processo de aprendizado, tornando mais produtivo e eficaz.
Espero que tenha gostado desta "mini-série", e aguardo seu comentário!